quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Que Você Quer

(Arnaldo Antunes)

O que você quer
não deixa de querer tão fácil.
Bêbado você ainda quer,
Em perigo você quer,
Perdido você ainda quer
o que você quer.

O que você quer mesmo permanece em você,
todo mundo vê.
Na cadeia você não deixa de querer,
No hospício você não deixa de querer,
No inferno você ainda quer
o que você quer.

O que você quer você não perde na roleta,
não perde no baralho.
Dinheiro não compra.
Conselhos não matam.
O tempo não toma
o que você quer.

O que você quer estará com você quando você se lembrar.
O que você quer estará em você quando você não se lembrar.
Cego você continua querendo.
Velho você continua querendo.
Onde você estiver.
Você continua tendo
o que você quer.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Trem da Vida

(Gilberto Pompermayer)

A arte de viver. Nesta viagem, um medo enorme vai tomando conta da humanidade, passando a pensar de forma pequena, esquecendo que fazemos parte de um todo maior. Passe a pensar dentro de um contexto mais amplo e a fazer uma análise em sua vida. Talvez seja bom aproveitarmos esta manhã para uma reflexão, e pensar com tranqüilidade sobre como temos levado nossa vida frente aos nossos semelhantes. Um bom ponto de partida para estas reflexões, propiciando novas perspectivas para nossa vida é entender o “trem da vida”.

Isso mesmo. A vida pode ser considerada como uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros. Quando nascemos entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco: nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível, mas isso não impede que, durante a viagem, pessoas interessantes e que virão a ser super especiais para nós, embarquem. Chegam nossos irmãos, amigos e grandes amores.Muitas pessoas tomam esse trem apenas a passeio. Outros encontrarão nessa viagem somente tristezas. Ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precise. Muitos descem e deixam saudades eternas, outros tantos passam por ele de uma forma que, quando desocupam seu acento, ninguém nem sequer percebe a sua partida.

Nesta viagem é curioso constatar que alguns passageiros que nos são tão caros, acomodam-se em vagões diferentes dos nossos portanto, somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não impede, é claro, que durante o trajeto, atravessemos com grande dificuldade nosso vagão e cheguemos até eles, só que, infelizmente, jamais, poderemos sentar ao seu lado, pois já terá alguém ocupando aquele lugar.

Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, e despedidas, porém, jamais, retornos. Façamos essa viagem, então, da melhor maneira possível, tentando nos relacionar bem com todos os passageiros, procurando, em cada um deles, o que tiverem de melhor, lembrando, sempre, que, em algum momento do trajeto, eles poderão fraquejar e provavelmente, precisaremos entender porque nós também fraquejaremos muitas vezes e, com certeza, haverá alguém que na atual existência, não entenderá a sua missão.

O grande mistério, afinal, é que jamais saberemos em que parada desceremos, muito menos nossos companheiros, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado. Este é o momento de pensar se quando você descer desse trem se sentirá muitas saudades, acredite que sim. Mas separar de alguns amigos que fizemos nele será, no mínimo doloroso. Deixar filhos continuarem esta viagem sozinhos, com certeza será muito triste, mas me agarrarmos na esperança que a vida é infinita, e que em algum momento, estaremos na estação principal e teremos a grande emoção de vê-los chegarem com uma bagagem que tinham quando embarcaram, e o que vai nos deixar muito feliz, será o de pensar que colaboramos para que eles tenham crescido e se tornado valiosa contribuição para a Divindade.

Este é o nosso momento de profunda reflexão. Façamos então com que a nossa estada, nesse trem, seja tranqüila e serena, que tenha valido a pena e que, quando chegar a nossa hora de desembarcarmos, que o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem serenamente a viagem. Boas energias. Eu acredito em você.



terça-feira, 20 de outubro de 2009

Esquadros

(Adriana Calcanhotto)

Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome. Cores de Almodóvar. Cores de Frida Kahlo. Cores!

Passeio pelo escuro. Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve.
E como uma segunda pele, um calo, uma casca, uma cápsula protetora, ai, eu quero chegar antes, prá sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone.
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela.
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado. Remoto controle...

Eu ando pelo mundo e os automóveis correm. Para quê?
As crianças correm. Para onde?
Transito entre dois lados. De um lado, eu gosto de opostos. Exponho o meu modo, me mostro.
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela.
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado. Remoto controle...

Eu ando pelo mundo. E meus amigos, cadê? Minha alegria, meu cansaço...
Meu amor cadê você? Eu acordei, não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto, pela janela do carro, pela tela, pela janela.
Quem é ela? Quem é ela?Eu vejo tudo enquadrado. Remoto controle...