quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

E ela sobreviveu...

...a mais um Natal...
Ou melhor! Ao primeiro Natal do resto de sua "nova" vida!
Velhos rostos conhecidos, com expressões inéditas...

Família...
Um motivo para estarem juntos, reunidos, felizes e comemorando! Mas não foi assim...
Havia um "algo estranho" no ar... Um não! Vários!

Mas ela sobreviveu...

Os Natais mudam com o passar dos anos. No princípio você faz parte do grupo que busca as cores em cada novo embrulho, em cada novo brinquedo, em cada nova brincadeira.
Depois você passa pro grupo que acha que o Natal "em família" é um porre! (Mesmo não tendo idade-liberdade pra encher a cara!). Aí você passa pra etapa do agora-é-comigo! E você vai ajudar na preparação da festa, na organização do amigo-oculto e na escalação de quem-vai-dormir-onde. Ela agora espera, mas torce pra ainda demorar um pouco, pra chegar na fase dos responsáveis pela alegria dos que esperam pelas cores do Natal. Mesmo porque alguns quer faziam a sua alegria já não estão mais aqui.

E ela sobreviveu...

O presente tão sonhado, tão solicitado, não veio...
No lugar vieram pratos e mais pratos de comidas... Pesadelos em todos os sentidos!
Doces de todos os lados e de todos os tipos... Depois ela vai reclamar quando subir na balança, mas a culpa é somente dela!
E nenhum porre... Somente uma tentativa com uma garrafa vinho italiano dividido com a tia mais surtada, na casa da prima mais "esperta"...
Mas ela sobreviveu...

Agora só resta esperar os últimos dias do anos, o último relatório no serviço, o último check list da sua mesa... e torcer para que no próximo dia primeiro seu inferno astral não chegue junto com o primeiro raio de sol do novo ano. (E ele espera, do fundo do coração, ver esse raio de sol numa praia!)

Enfim, Natal agora só no ano que vem!

Hohoho!

Carta aos Mortos
(Affonso Romano de SantAnna)

Amigos, nada mudou em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
as guerras não terminaram
e há vírus novos e terríveis,
embora o avanço da medicina.

Volta e meia um vizinho tomba morto
por questão de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
e como sempre, mulheres portentosas
nos seduzem com suas bocas e pernas,
mas em matéria de amor
não inventamos nenhuma posição nova.

Alguns cosmonautas ficam no espaço
seis meses ou mais, testando a engrenagem
e a solidão.
Em cada olimpíada há récordes previstos
e nos países, avanços e recuos sociais.

Mas nenhum pássaro mudou seu canto
com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
relemos o Quixote,
e a primavera chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos, rios e florestas se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
ou toma a fresca da tarde,
mas temos máquinas velocíssimas
que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
e a formação das galáxias
não avançamos nada.

Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
países se dividem
e as formigas e abelhas continuam fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.
Cantamos parabéns nas festas,

discutimos futebol na esquina,
morremos em estúpidos desastres
e volta e meia um de nós olha o céu
quando estrelado com o mesmo pasmo das cavernas.

E cada geração , insolente, continua a achar
que vive no ápice da história.

Nenhum comentário: